Segundo a Associação Americana de Deficiências Mentais e de Desenvolvimento (AAIDD, em inglês), deficiências mentais são caracterizadas por limitações significativas tanto nas funções intelectuais quanto na adaptação ao ambiente, prejudicando atividades cotidianas sociais e práticas. Tal condição influencia diretamente a saúde bucal, já que pessoas com transtornos mentais dependem quase que totalmente do apoio de familiares ou de alguém responsável para a realização dos procedimentos básicos de limpeza da boca.
Entretanto, nem sempre essa ajuda é completamente eficiente, já que algumas dificuldades podem comprometer mesmo a melhor das boas vontades. É nesse ponto que a presença e o acompanhamento de um profissional da Odontologia são essenciais para uma boa saúde.
Segundo o Dr. Marcelo Fúria César, supervisor do setor de Odontologia da AACD, a atuação do profissional da área em casos com pacientes com deficiência mental é, basicamente, a mesma da de pacientes comuns, mas com abordagens diferentes. Em ambos os casos, o foco do tratamento está na prevenção e na informação. "O odontologista tem um papel fundamental nessa conscientização, ensinando e orientando os familiares como lidar com essa dificuldade. Uma abordagem precoce é fundamental para a prevenção de problemas mais complicados", conta.
Mais do que isso, a cristalização de um hábito diário de higiene faz com que o próprio paciente acostume-se com esse tipo de estímulo, facilitando, cada vez mais, a escovação e ajudando a manter a saúde da boca. "Pacientes com deficiência mental ainda contam com o agravante de, em muitos casos, alimentarem-se exclusivamente de alimentos pastosos, que podem refugiar-se em locais de difícil acesso durante a escovação", explica o Dr. Fúria César.
Cabe ao odontologista fazer recomendações simples, mas que serão de grande ajuda para o cotidiano dos pacientes e de seus familiares. Alguns exemplos são o uso de escovas macias e bem pequenas - que facilitam o acesso às regiões mais difíceis e impedem que o paciente possa se machucar durante a escovação -, e a aplicação de uma quantidade pequena (do tamanho de uma ervilha) de creme dental, evitando, assim, o excesso de espuma que poderá atrapalhar a visão do cuidador ou ser engolido pelo paciente, ocasionando até engasgos.
Intervenção necessária
Porém, nem sempre essa prevenção é eficiente. Muitos pacientes acabam procurando ajuda especializada apenas após um quadro bastante avançado, quando já se faz imprescindível a intervenção do odontologista. No caso de doenças periodontais e cáries, o tratamento é semelhante a dos demais pacientes: são realizadas limpezas, extrações e outros procedimentos comuns. O que varia de um caso para o outro são alguns cuidados indispensáveis quando o paciente necessita de atenção especial. A possibilidade maior de engasgos com líquidos em pacientes com disfunções neuromotoras e os eventuais problemas em manter a boca aberta durante o tratamento, são alguns exemplos de dificuldades encontradas. Nesses casos, cabe ao odontologista manejar seus instrumentos com um cuidado especial.
A abordagem de pacientes com deficiência mental também precisa ser executada de forma diferenciada. Eles podem ser reativos a estímulos sensoriais (como ao barulho do motor de alta rotação e à dor repentina), podendo, até, apresentar reflexos bruscos involuntários. Para o Dr. Fúria César "[...] nessas situações, é necessária uma abordagem gradativa, visando fazer o paciente acostumar-se tanto com o cirurgião-dentista quanto aos procedimentos executados. Quando essa gradação não se mostra eficiente, é recomendado o uso de contenções físicas ou, em último caso, química (em ambiente hospitalar)".
Uma especialidade que merece atenção
Dados da OMS - Organização Mundial de Saúde apontam que mais de um bilhão de pessoas, 15% da população mundial, apresentam algum tipo de deficiência. Uma pesquisa recente, também divulgada pela OMS, constatou que 35 a 50% das pessoas com deficiência mental em países desenvolvidos não recebeu tratamento médico no ano anterior ao estudo. Esse número pode chegar a 76 e 85% em países em desenvolvimento.
Um dos culpados desse quadro pode ser a falta de atenção dada às especializações direcionadas a esses pacientes. No caso da Odontologia, não é diferente. A Dra. Adriana Zink, especialista em pacientes especiais e vencedora do VI Prêmio Orgulho Autista Brasil, constata: "Percebo que muitos colegas olham esse tipo de especialidade como importante, mas não lucrativa. O que é um preconceito". É com a popularização dessa área que um relativo avanço pode ser alcançado, e uma evolução da especialidade é obrigatória.
A Dra. Zink conta que, no caso de pacientes com autismo, sabe-se que 53,8% dos pacientes ainda são atendidos com anestesia geral por causa das alterações comportamentais e dificuldades de sociabilização. Para tentar mudar esse quadro, ela desenvolveu uma técnica de condicionamento e abordagem lúdica que, ela garante, tem bons resultados em substituir a sedação. "O melhor (dessa abordagem) é que eles são atendidos no consultório, perto de seus pais, sem anestesia geral e, com certeza, com um custo reduzido. A técnica de abordagem é tudo para esses pacientes. O ideal seria o treinamento dos cirurgiões-dentistas com esse tipo de técnica. Além de melhor aceitas pelos pais, são mais humanizadas. Hoje, todos estão muito atentos às melhorias na qualidade de vida. E devemos nos adequar a essa realidade", finaliza.
Justo o que eu procurava sobre motor de prótese
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