quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Controle de Microorganismos, Doenças Sistemáticas e a Cavidade Bucal

FONTE: ODOMED
O controle de microorganismos é um dos campos mais ativos da atual pesquisa na área farmacológica. Essa é uma fronteira que demanda extremo cuidado. Ao longo de nossa história, parte significante de nossa moderna civilização foi destruída pelo ataque descontrolado de microorganismos.


Novas ameaças estão surgindo dia a dia. A indústria de quimioterapia antimicrobiana está em constante alerta, principalmente devido à rápida capacidade de evolução e diversidade de patógenos encontrados. O aparecimento de uma grande variedade de patógenos resistentes aos agentes químicos e a descoberta de novas fontes de contaminação, faz com que haja um grande aumento da morbidade de infecções que eram facilmente tratadas no passado. Apesar de nossa grande capacidade tecnológica, certos microorganismos parecem ser mais capazes e podem estar instalados em áreas do organismo que não possuíam atenção necessária, quando avaliada as causas de focos de infecção. Certos tipos de enfermidades e problemas decorrentes de infecções adquiridas em hospitais são foco de preocupação constante, pois além de interferir na recuperação de seus pacientes, impacta definitivamente no custo assistencial destas instituições. Muitas doenças provenientes de infecções secundárias, adquiridas por pacientes extremamente debilitados e em recuperação, não podem mais ser controladas com os tradicionais antibióticos e, em muitos casos, pacientes estão indo a óbito. Todos sabem que precisamos de urgentes alternativas para controle microbiológico. É nesse âmbito que modernas técnicas e estudos estão sendo desenvolvidos para inibir e controlar a ação destes microorganismos.

Vários estudos demonstram que a cavidade bucal é um dos grandes focos de microorganismos que podem causar sérios problemas sistêmicos e infecções secundárias.

Atualmente tem se dado atenção especial a focos infecciosos bucais presentes em pacientes que necessitam de intervenções complexas (transplante de medula) e na recuperação dos mesmos em tratamentos que necessitam de cuidados especiais no controle de microorganismos patogênicos. Porém ainda existe uma visão equivocada, que apenas a observação de focos relacionados a carie e a doença periodontal são suficientes no combate a estes focos.

Existe um grave problema da cavidade oral, que é uma grande fonte de microorganismos patogênicos, que através de sua ação direta ou de suas toxinas, podem causar sérios problemas sistêmicos aos pacientes que serão tratados ou em recuperação. È o caso da saburra lingual.

Pesquisas mostram que cerca de no mínimo 40% da população apresenta hiposalivação (redução do fluxo salivar) com a possibilidade de deposição de bactérias patogênicas no dorso lingual, que pode ser facilmente observada pela presença de uma placa bacteriana lingual ou saburra. Na população adulta com idade superior a 50 anos a hiposalivação e suas conseqüências pode chegar a 85%.  Em pacientes em tratamento quimio e/ou radioterápico passa a ser 100%.

Evitar a saburra e suas conseqüências envolve, entre outras coisas, a limpeza da língua. Quando falamos em limpeza da língua estamos falando de problemas ainda muito mais abrangentes e importantes do ponto de vista de saúde pública. Um simples procedimento deste estará prevenindo não somente cárie, doença periodontal e halitose. O limpar a língua previne uma série de doenças sistêmicas cuja porta de entrada é a boca. E o que é mais importante: é uma ação de baixo custo.

Pacientes quimio e radio terapeutizados, pela drástica redução do fluxo salivar também ocorre um ressecamento da mucosa que pelo atrito provoca mucosites e ulcerações com ardência em várias regiões da cavidade bucal que dificulta e impede a limpeza mec6anica da língua e prejudica a alimentação provocando emagrecimento e perda de resistência do hospedeiro às infecções. Outro fator importante quando ocorre baixa salivação é a perda ou alteração do paladar que também contribui para a perda de vontade de se alimentar.

Pela baixa ou quase nenhuma salivação vai ocorrer uma redução da autolimpeza com aumento da proliferação bacteriana na boca. Além disso, a saliva que é composta por vários fatores antimicrobianos (atualmente mais de 15 fatores antimicrobianos bem conhecidos) sofre uma redução drástica da quantidade desses fatores, bem como da qualidade de sua capacidade de ação. As moléculas com atividade antibacteriana ficam envolvidas pela mucina (agora em maior concentração) e praticamente deixam de realizar o seu papel. A primeira observação deste fato foi em relação à ação da lisozima na presença de alta concentração de mucina.

Daí a importância da impossibilidade da limpeza da língua para a remoção dessa massa bacteriana que varia em espessura, extensão e viscosidade. É claro que a limpeza da língua remove 90% ou mais das bactérias e de seus nutrientes, mas elas vão continuar proliferando e novamente atingem a situação anterior.

Por conta disso torna-se importante o uso de um enxaguante com atividade antibacteriana natural, impedindo a proliferação e o aumento da massa de microroganimos sobre a língua. Importante também que o enxaguante tenha uma ação potente, mas natural, não deixando resíduos na boca após o seu tempo de atividade.

A placa bacteriana que se instala sobre o dorso da língua pode albergar microorganismos que, quando atingem concentrações altas, irão produzir cárie, doença periodontal e doenças sistêmicas (porque da língua migram para, respectivamente, o dente, o sulco gengival, as amígdalas, o estômago, os pulmões, etc.). Na saburra, reservatório de microorganismos patogênicos do tipo anaeróbios proteolíticos gram negativos, também costuma se instalar os conhecidos como BANA positivos (Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola e Bacteróides forsythus) os quais podem cair na corrente circulatória (eles próprios ou suas endotoxinas) quando houver algum sangramento gengival. Por esse motivo os pacientes portadores de saburra estão mais susceptíveis a:
  • Doenças Bucais: Cárie; Doença Periodontal; Halitose; Xerostomia.
  • Doenças Sistêmicas: Amigdalites Freqüentes; Pneumonias; Gastrite; Ataque Cardíaco; Acidente Vascular Cerebral; Nascimento de Crianças Prematuras; Nati Mortos; Abortos e Artrite Reacional.
Existe uma correlação positiva entre periodonto saudável e saúde sistêmica, da mesma forma que existe uma correlação entre saburra lingual e doença periodontal. Podemos encontrar pacientes com saburra sem doença periodontal, mas jamais paciente com doença periodontal e sem saburra.

Por todos os motivos acima expostos, é lógico que manter a superfície da língua o mais limpa possível é uma forma de reduzir drasticamente a contagem de microorganismos patogênicos na cavidade bucal e, portanto, prevenir o aparecimento das doenças acima mencionadas.

Estas afirmações, que podem parecer um exagero, se acham fartamente documentadas em trabalhos científicos sérios e podem ser facilmente compreendidas quando analisamos que a placa bacteriana instalada no dorso da língua é formada por microorganismos altamente patogênicos em função das toxinas que produzem. Isto posto, podemos avaliar o quanto se economizaria em termos financeiros e de sofrimento para os pacientes e familiares ao prevenir e/ou controlar a presença da placa bacteriana lingual e suas conseqüências.

Bibliografia
BECK, J. D. et al. – Periodontal disease and cardiovascular disease. J. Periodontol., 67: 1123-1137, 1996.
BOUFFARD, C. – Heart disease: Established and emerging risk factors. Acess, 12 (3): 23-30, 1998.
Kleinberg, I. and Westbay, G. – Salivary and metabolic factors involved in oral malodor formation. J. Periodontol., v.63, p.768-775, 1992.
MC NAMARA, T. F. et al. - The role of microorganisms in the production of oral  malodor. Oral Surg. Oral Med., Oral Pathol., 34: 41-48, 1972.
MILLMAN, C. – The route of all evil. Men’s Health, 102, dec., 1999.
RALPH, W. J. – Hygiene of the tongue. Gerodontics, 3: 169-170, 1987.
SEEMANN, R. et al. – Effectiveness of mechanical tongue cleaning on oral levels of volatile sulfur compounds. J. A. D. A., 132: 1263-1267, 2001.
TOGASHI, A. Y. et al. - Levantamento Epidemiológico do Fluxo Salivar da População da Cidade de Bauru, na Faixa Etária de 3 a 90 anos. Revista da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB – USP), v. 6, n. 2, p. 47-52, abr. / jun., 1998.
STINSON, 2000; Position Paper of the American Academy of Periodontology: Periodontal disease as a potential risk factor for systemic diseases, 1998.
VASILAKIS, G. J.  et al. – Effects of daily mechanical tongue cleaning of the rat on dental plaque and tongue mucosa. Clinical Preventive Dentistry, 3: (5), 710, 1981.
YAEGAKI, K. and SANADA, K. – Biochemical and clinical factors influencing oral malodor in periodontal patients. J. Periodontol., 63: 783-789, 1992.

Nenhum comentário:

Postar um comentário