NOTA DA COLUNISTA: excelente texto, do Blog da Escola Paulista de Medicina oral. Serve de reflexão sobre as práticas intervencionistas, invasivas e mutiladoras. Estamos, teoricamente, na era da prevenção, da Odontologia Baseada em Evidências e minimamente invasiva. SERÁ QUE ESTAMOS MESMO ou é isso é apenas "conversa para inglês ver"?
Publicado em 23 de outubro de 2011 em EPMO
Por mais de 100 anos, os dentistas trataram a cárie e a doença periodontal (as duas doenças de maior prevalência na boca) com três metais: prata, ouro e aço inox. Mas, nós sabemos que as duas doenças são infecciosas e que , nenhum médico trataria tais infecções, ou qualquer infecção com qualquer metal…Observa-se também que os dentistas são muito lentos na adoção de novos conceitos científicos, mas incorporam novas técnicas rapidamente. Esse desequilíbrio da profissão tem sido observado pela indústria, e a maior parte das mudanças na terapia se origina da introdução de novos produtos e novas técnicas no mercado, geralmente com uma ausência notável de documentação científica sólida para sua eficácia e segurança. O entusiasmo do dentista pela informação casual é narcótico por natureza e se sentem bem quando veem fotografias de belas restaurações adesivas mesmo que possuam uma longevidade clínica de 30 minutos.
Além disso, questões financeiras também desempenham um papel básico. Os dentistas são remunerados basicamente de três maneiras: salário fixo, por serviço ou ainda per capita . O tratamento em adultos se baseia em soluções técnicas que são mais caras que serviços preventivos. Isso reforça as intervenções mecanicistas sobre as biológicas.
Assim, podemos prever dois cenários diferentes na Odontologia do futuro: um dominado por homens de negócio que vendem sorrisos do tipo Hollywood e “dispositivos orais caros”, e outro consistindo de profissionais em atendimento da saúde que tentam manter uma prática baseada em evidências científicas para resultados mais biológicos nos pacientes. Em função da Odontologia não ser controlada em relação à adequação dos procedimentos, a abordagem mercantilista tende a ganhar mais terreno. Entretanto, esta abordagem deve gerar desconfiança pública porque a sociedade buscará responsabilidade, transparência e altos padrões de ética profissionais.
Referências:
Fejerkov, Kidd. Cárie Dentária – A Doença e seu Tratamento Clínico, 2ª ed. Ed. Santos, 2011
Renshaw, J. After the first 125 years of the BDJ where might clinical dentistry be heading? Br. Dent. J. 2005; 199: 331-7.
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