quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A visão da morte para os profissionais de saúde - PARTE 1

Creio que por ter me especializado em Odontogeriatria, por atuar com pacientes com comprometimento sistêmico, em Home care e em Odontologia Hospitalar e também por no meu mestrado em Saúde Coletiva termos discutido bastante e profundamente sobre  "relacionamento entre profissional e paciente", "qualidade de vida" e "qualidade de morte", a temática da "MORTE" é um tema que me intriga, me interessa e me faz refletir.

Nós, cirurgiões-dentistas e nossa equipe auxiliar (ASB e TSB), não fomos preparados nos cursos de graduação e pós-graduação para lidar com a morte. Na verdade, creio que não há curso ou técnica que ensine a lidar com essa questão, nem para os diversos profissionais do campo da saúde envolvidos nos cuidados dos enfermos nem para o próprio paciente e seus familiares.

O ser humano tem uma dificuldade enorme ao lidar com as perdas, de uma forma geral. Muitos consideram as mesmas como insucessos e fracassos. Alguns parecem conseguir lidar melhor, devido a fatores como o apoio familiar e de amigos, a fé e a religiosidade e até a própria maneira individual de encarar a vida e os problemas.

Esse é o primeiro post sobre "A visão da morte para os profissionais de saúde" que escrevo aqui no blog. Outros virão, por considerar que esse é um tema intrigante e pouco discutido entre dentistas.

Escrevo ontem, dia 02.11.2011, dia de Finados, feriado nacional, onde, no acolhimento de minha casa, pude lembrar de cada um dos pacientes que eu e minha sócia e amiga, Diana Rosado Lopes, perdemos esse ano. Que nós temos notícia, por termos tido um vínculo maior com os mesmos e com os familiares, foram 14.

Cada perda foi sentida por nós, muitas vezes pelos pacientes que acabaram por se tornar amigos e que não veremos mais neste mundo ou pela dor que vimos no rosto de seus familiares e amigos, mas, principalmente, pela sensação de dever cumprido, por termos sido capazes de auxiliar a equipe de saúde envolvida nos cuidados desses pacientes a proporcionar dignidade e alívio aos últimos momentos dessas pessoas (antes de serem pacientes, são pessoas, como suas histórias de vida, desejos, anseios, sonhos, medos, traumas, mágoas).

Deixamos aqui a nossa homenagem pessoal a Nair, Alice, José Lins, Maria do Socorro, José Felgueiras, Dácio, Celso, Heraldo, Herta, Enar, Severino, Iara, Duvina e a tantos outros que nos permitiram exercer uma Odontologia da qual temos orgulho...


Encerro com um trecho do discurso do filme Patch Adams, cujo protagonista foi o ator Robin Williams, que fala de morte, de qualidade vida e de envolvimento do profissional com os seus pacientes (muitas vezes desencorajado, criticado ou contra-indicado por alguns professores, como se fôssemos máquinas ou como se a distância nos fizesse sofrer menos). SEGUE:

Discurso no julgamento do Conselho Médico
"Que tem a morte de errado? Por que temos esse medo mortal? Por que não tratamos a morte com humanidade, dignidade, decência e até com humor? A morte não é o inimigo. Se quiserem enfrentar um mal, enfrentem o mal da indiferença.
Todo ser humano causa impacto nos outros. Por que evitar a relação entre paciente e médico? O que ensinam está errado. A missão do médico deve ser não apenas de evitar a morte... mas melhorar a qualidade de vida. Tratando o mal, se ganha ou se perde. Tratando o indivíduo, garanto que vão ganhar, independente do desfecho.
A sala está cheia de estudantes de medicina. Não se deixem anestesiar pelo milagre da vida. Sempre se extasiem pela glória do corpo humano. Concentrem-se nisso, não em procurar notas... que não indicam o tipo de médicos que serão. Não esperem demais para recuperar a humanidade. Aprendam a entrevistar. A falar com estranhos. Com amigos, “enganos”, com todos! Cultivem amizades com essas pessoas incríveis, as enfermeiras. Cuidam de pessoas dia após dia. Têm muito que ensinar, bem como os professores, que não têm o coração gelado. Aprendam a ter compaixão.
Quero ser médico de todo meu coração. Queria ser médico para ajudar o próximo. Por causa disso, perdi tudo. Mas também ganhei tudo. Compartilhei das vidas de pacientes e pessoal do hospital. Rimos e choramos juntos. Quero dedicar a vida a isso.
E hoje, seja qual for sua decisão, juro por Deus que vou chegar a ser o melhor médico de todo o mundo. Podem impedir que eu me forme. Podem me negar o título e a bata branca. Mas não podem dominar meu espírito nem evitar que aprenda. Não podem me impedir de estudar. Portanto, têm uma escolha. Podem me ter como um colega apaixonado... Ou como um intruso, mais ainda inquebrantável. Seja como for, ainda vou ser um espinho. Mas prometo, vou ser um espinho que não podem arrancar.
- É tudo?
- Espero que não.

Sentença
"Seus métodos não nos agradam. Sua aparência e conduta não são necessárias para ganhar a confiança e respeito de um paciente. Você nos acusa de usar os métodos consagrados que têm sido a base da instituição médica. Contudo, não criticamos suas tentativas de melhorar a qualidade de vida ao seu redor. Não criticamos seu desejo de ampliar os métodos e as teorias atuais. Louvamos seu afeto pelo paciente. Suas notas estão entre as melhores de sua classe. Portanto, não há motivos para impedir que se forme. Junto com sua conduta grosseira e desdenhosa, carrega uma chama que esperamos que se espalhe por toda a profissão médica. E, reitor Walcott... no futuro, assuntos como este poderão se resolver, se praticar um pouco de... felicidade excessiva.”

2 comentários:

  1. 2011 finalizou e, infelizmente, tomamos conhecimento do óbito de 20 pacientes sob nossos cuidados... Muitos acompanhados por nossa equipe há meses ou anos. Não estamos preparados, de fato, para isso...

    Nossos mais profundos sentimentos, respeito e carinho aos nossos enfermos e seus familiares.

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  2. A morte é um assunto muito difícil para os profissionais de qualquer área de saúde.
    Um pode estar preparado para lidar com ela, mas sempre vai ser um tema que não se entende.
    Há que cuidar muito da saúde o prever, por isso a próxima semana eu vou ao dentista de periodontia

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